Na busca de suas origens, o genealogista reconstrói a história de suas famílias e faz descobertas fantásticas, humanas, de luta contra as adversidades da vida sem esmorecimento, de amor infinito. Nossos avós, imigrantes do século 19, são exemplos marcantes dessa luta pela busca de um melhor futuro para seus filhos, netos, bisnetos, nós, em suma. Deixar para trás séculos de vivência em suas origens, seus pais, seus irmãos, parentes e amigos, e partir para o desconhecido, sem volta e sem reencontros, era um ato de extrema coragem. Muitas vezes deixando pelos mares e caminhos os entes queridos, esposo, esposa, filhos pequenos, vítimas das doenças, ainda antes de chegar na terra prometida. Depois a mata virgem a explorar, sem assistência diante dos perigos naturais que oferecia. No meio disso tudo encontramos histórias de amizades infindas, de perseverança e amor que permaneceram para todo o sempre. Dias atrás descobrimos em nossas famílias mais uma história de amizade e amor.
Voltemos, então, no tempo.
- Alemanha, vale do rio Mosel. Ali há dois lugarejos gêmeos, lado a lado, na mesma margem do rio. Tão próximos que um vê o outro, apenas dois quilômetros os separam: Pünderich e Briedel. As terras em meio são cultivadas pelos moradores de ambos os vilarejos. São vizinhos e amigos. Em Bridel mora a família de Johann Arenhart (n. 1794), em Pünderich a de Mathias Franzen (n. 1777). Já haviam enfrentado as tempestades das guerras que sempre passavam por aqueles corredores do Hunsrück. A ocupação francesa de 1798, entrando nos anos 1800, marcara aquelas famílias, obrigadas a entregar as melhores partes dos seus parcos cultivos em Kirchberg, a 25 km, subindo à muque as encostas do Mosel, carregando os produtos do seu trabalho para entregá-los aos ocupantes franceses. O seu sonho passou a ser a liberdade política e religiosa, e terras próprias mais amplas e férteis. Em 1828 Franzen mantinha o sonho, apesar dos seus 51 anos. Uniu-se ao Arenhart (34 anos) e mais às famílias de Peter Klein e Christoph Walter, de Bridel, e partiram para o Brasil, juntos, uma longa e penosa viagem de nove meses, que deixou 47 nas ondas do mar.
- Alemanha, Bad Kreuznach. Em 1825 Philipp Heinrich Fauth (36 anos) parte com sua família. Após um ano de doença no Rio de Janeiro, chegam em São Leopoldo em fevereiro de 1827. Logo depois o patriarca morre afogado no rio dos Sinos, deixando a viúva com quatro filhos pequenos.
- Alemanha, Lautenbach, a 244 km de Briedel. Jacob Eckert parte para o Brasil em 1826, com a esposa e cinco filhos. Chega em São Leopoldo em 14.02.1827 apenas com as três filhas. A esposa e o filho Joseph de 12 anos morreram na viagem. O único filho homem – Georg – fica no Rio de Janeiro para prestar o serviço militar e vem para o Sul defender seu novo país na guerra contra os castelhanos da Cisplatina (Uruguai).
- Final do século 19. A segunda geração se espalhara pelo Rio Grande. Os Franzen subiram a Serra. Georg Eckert estava no Vale do Caí próximo de Bom Princípio. Os Arenhart em São José do Hortêncio. Os Fauth mudaram de Hamburgo Velho para Taquara do Mundo Novo (1848), depois para a região de Montenegro (1873) e após para Conde d´Eu (Garibaldi).
- Início do Séc. 20. Os Arenhart e os Eckert migram e se encontram em Santa Clara do Sul, na época Lajeado. Em 1932 meus pais Fauth-Franzen-Sauthier (suíços) vêm de Carlos Barbosa para Estrela. Fugindo das grandes enchentes de 1941, A. Bruno Eckert, de mãe Arenhart, de Santa Clara também vem para Estrela. Compra suas terras a 300 metros de onde eu estava nascendo em 1942.
- 30 de outubro de 1971 – há 50 anos -, em Estrela, Bernadete Eckert, trineta de Johann Arenhart, de Briedel, casa com Adonis Valdir Fauth, tetraneto dos Franzen de Pünderich. O amor restabelece a aliança dos amigos que haviam partido das margens do Mosel há quase duzentos anos na busca conjunta de melhor futuro para seus descendentes. O sonho dos nossos avós se concretiza, as almas gêmeas se reencontram e nossos filhos e netos agora sabem que têm avós que já eram amigos há mais de dois séculos.
É - ou não é - uma bela história de amizade e de amor infinitos ?
FOTO: Esposa e netos de Adonis